A lanchonete vazia sempre a atraia porque o café de lá era bom. Não sabia porque as pessoas não frequentavam aquele lugar, mas por um lado até preferia que fosse assim, gostava da exclusividade. Naquele dia, nublado e com fortes rajadas de vento, os pés dela a levaram até lá sem que ela mesma percebesse. Sentou-se em sua mesa habitual, pediu o cappuccino e as rosquinhas de coco de sempre e pegou suas palavras cruzadas como de costume e mal percebeu os olhos que a observavam, não era comum que a observassem.
Quando o rapaz se aproximou da mesa, ela teve um sobressalto.
- Pois não? - ela perguntou.
- Oi... - ele corou.
Levantou uma das sobrancelhas, como quem questiona ou espera.
- Posso me sentar com você? - o rapaz perguntou e agora reparava: ele não era comum, tinha tatuagens pelos braços, cabelo bagunçado, talvez fumasse pelos dentes amarelados, mas não exalava cheiro algum.
- Por que eu deveria deixar?
Ele passou as mãos pelos cabelos escuros bagunçando-os mais ainda.
- Porque faz tempo que te vejo por aqui, você está sempre sozinha, assim como eu. Devíamos nos fazer companhia.
- Mas eu nunca te vi aqui antes.
- Porque você nunca reparou.
- Mas quem disse que preciso de companhia?
- Eu sei. Eu sinto - abriu um sorriso e, ao contrário do que era de se esperar, não era metido ou debochado, era sincero e acolhedor.
Como ela não respondeu nem manifestou-se, o rapaz se sentou.
- Tomei a liberdade de pedir que mandassem meu café pra cá.
Pela primeira vez ela trocou suas palavras cruzadas por palavras diretas e assim eles conversaram bastante. Ela teve aquela sensação de que já se conheciam há muito tempo. Por algum motivo, destino, coincidência ou Deus, ela sentiu que era ali que devia estar e com aquela companhia. Por alguma razão ela soube que nunca iria se arrepender de ter deixado aquele rapaz diferente dividir a mesa com ela.
Um sopro de vento sussurrava... um dia eles se encontrariam e saberiam que deviam ficar juntos.
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